Discordianismo por Reverendo Ibrahim Cesar

Representante moderno de Carneades, o discordianismo é uma religião baseada no caos fundada no ano de 1958. Qualquer afirmação sobre o discordianismo, nunca sobrevive a um exame mais minucioso. Isso por que, divergir sobre o que são e o que fazem, é lei entre os que se declaram praticantes do mesmo. Primeiro, porque para alguns o discordianismo é apenas uma sátira, uma piada disfarçada de religião. Para outros, na verdade é uma religião disfarçada de piada.

Criação

Os criadores do discordianismo foram Gregory Hill, também conhecido como Malaclypse ( autor do principal livro, o Principia Discordia) e Kerry Wendell Thornley, ou Omar Khayyam Ravenhurst ou ainda Ho Chi Zen.

E foi desenvolvido como um exercício de guerrilha ontológica no que eles chamavam de Operação:Mindfuck através da versão Irmão Marx do zen, o discordianismo.

Zen

O discordianismo embora a primeira vista não pareça, é o zen ocidental. Kerry Thornley, anos mais tarde de criar o discordianismo, sob o nome de Ho Chi Zen, lançou uma série de panfletos sobre a Zenarquia.

O zen nasceu na China, como uma escola do budismo mahayana, que é notável por sua ênfase na plena aceitação do momento presente, ação espontânea, e o abandono do pensamento julgamentoso e auto consciente. O zen ainda se divide em vários ramos, sendo mais notórios dois deles: Soto e Rinzai. Enquanto a escola Soto dá maior ênfase à meditação silenciosa, a escola Rinzai faz amplo uso dos koans.

Koans são histórias, diálogos, questões, ou afirmações geralmente contendo aspectos que são inacessíveis ao pensamento racional, ainda que possam ser acessados à intuição. Um dos mais famosos e que figura no Principia Discordia é este: Qual o som de palmas com uma mão só?

Da mesma forma, o discordianismo faz amplo uso de histórias, diálogos, questões, afirmações, imagens e qualquer coisa que provoque a confusão, a Operação:Mindfuck. O propósito é sacudir as pessoas de suas zonas de conforto e levá-las a pensar.

Caos

Os discordianos que seguem o erisianismo, usam Éris, a deusa grega do caos e da discórdia, como divindade. A palavra caos irá aparecer muitas vezes no material discordiano. Sobre tal é digno de nota, que para um discordiano, caos não é antônimo de ordem. Para eles, o caos é a natureza da realidade. O antônimo de ordem é a desordem. Eles apenas querem conscientizar a sociedade moderna que busca a ordem em tudo, de que vivemos em um Universo caótico e que não existe essa coisa que chamamos verdade. Como escreveu Robert Anton Wilson, também conhecido como Dr. Mordecai Malignatius no meio discordiano:

“A iluminação discordiana é alcançada quando você se conscientiza de que, apesar de a deusa Éris e de a lei dos cinco não serem literalmente verdadeiras, nada é literalmente verdadeiro. Dos cem milhões de sinais zunindo, recebidos a cada minuto, o cérebro humano ignora a maioria, e organiza o resto em conformidade com qualquer sistema de crença estabelecido nele. Podemos selecionar sinais ordeiros e legais e dizer que tudo é projetado por uma inteligência cósmica, como no tomismo, ou selecionar sinais caóticos e afirmar que Deus é uma Mulher Louca, como no discordianismo. O cérebro ajustará os sinais recebidos aos dois sistemas de crença ou a uma dúzia de outros.”

Brasil

Não é certo quando o discordianismo chegou ao Brasil. Mas foi graças à sua presença na internet que ele conseguiu continuar existindo em nossas terras. Nos últimos anos, com o avanço de algumas descobertas em psicologia e física se aproximando dos ideais pregados pelo discordianismo e o aumento de sua presença na internet, ocorreu um aumento no número de seguidores. Seja ele uma piada disfarçada de religião ou uma religião disfarçada de piada, parece que o discordianismo veio para ficar.

Referências:
MAL-2. Principia Discordia. Tradução brasileira: Ibrahim Cesar, 2005
WILSON, Robert Anton. A Nova Inquisição. Madras, 2004
WILSON, Robert Anton. O Gatilho Cósmico. Madras, 2004
WILSON, Robert Anton. The Illuminatus! Trilogy. Dell Publishing, 1984
ALHAZRED, Abdul. Necronomicon. Tradução para o latim: Olaus Wormius, 1228